Artigos de Educação
Superprotegidos do mundo real e desprotegidos do mundo virtual
O que está por trás dos níveis sem precedentes de ansiedade entre crianças e adolescentes e como podemos reverter esse quadro
Por: Escola Tistu
|O mês internacional da conscientização do autismo traz às instituições, meios de comunicação, familiares e profissionais a oportunidade de transmitir e de buscar informações que nos ajudam a criar uma sociedade mais acolhedora e preparada para oferecer a todos aquilo que precisam para se desenvolverem – seja qual for a necessidade.
Dentre tantas questões que se pode abordar com relação ao transtorno do espectro autista (TEA), uma das mais importantes é o papel da intervenção precoce – o que não implica em diagnóstico precoce. Fechar um diagnóstico é uma tarefa que pode, e deve, levar tempo de investigação e não pode ser feita de forma precipitada. É compreensível, portanto, que os médicos queiram acompanhar a criança por um bom tempo para descartar outras possibilidades, como diferenças normais no tempo de amadurecimento para certas capacidades.
No entanto, não é necessário esperar o diagnóstico para intervir no processo de desenvolvimento e buscar ações direcionadas às áreas que apresentam atraso. Muitos pais acreditam que a criança está “no tempo dela” e demoram para buscar ajuda – o que geralmente ocorre,segundoestudopublicado em 2019 no Jornal Italiano de Pediatria, quando o atraso na linguagem, comum entre crianças autistas, fica muito evidente.
Mas afinal, quando não é mais cedo demais para se considerar a presença do transtorno?
O Instituto Nacional de Saúde americano (NIMH) revela que a maior parte das crianças que são diagnosticadas com TEA têm mais de três anos, apesar de que, conforme ressalta a entidade, muito antes disso é geralmente possível perceber uma série de comportamentos atípicos que sugerem o diagnóstico.
Um estudo publicado no Jornal Italiano de Pediatria em 2019 concluiu que sete em cada dez crianças com autismo apresentam sinais do distúrbio com menos de dois anos e em cerca de 40% as evidências se manifestaram antes do primeiro aniversário.
Outra parcela de crianças com TEA apresenta regresso em habilidades de linguagem e sociais normalmente entre 16 e 20 meses. Pesquisas mostram que o transtorno tende a se manifestar mais severamente nesses casos de repentino regresso.
Quais são esses sinais?
Um dos mais comuns, e que pode ser percebido cedo, é a forma atípica de prestar atenção a algo que está sendo mostrado por um adulto – o que chamamos de atenção compartilhada.
É esperado que, por volta dos seis aos nove meses, bebês alternem seu olhar entre o objeto e o adulto com quem está interagindo. Logo passam a apontar quando querem mostrar algo, fazendo essa mesma alternância de olhar. Entre crianças mais tarde diagnosticadas com autismo é comum que o compartilhamento de experiências com outros não aconteça dessa forma – embora não necessariamente deixe de existir, pois é comum a criança estar absorvendo a informação mesmo sem demonstrar.
A falta de contato visual ou deficiência na sustentação do olhar quando interagindo com pessoas também são sintomas comuns que podem aparecer ainda no primeiro ano de vida. Também nesta fase são observadas com frequência alterações no sono e irritabilidade – sinal de alerta que sempre deve estar combinado com outros, por ser algo comum entre bebês.
Embora em cerca de 90% das pessoas com autismo apresentem alterações relacionadas à linguagem – expressão ou compreensão – e às interações sociais, existem outras áreas que podem sinalizar o transtorno.
Atrasos motores, tanto na coordenação motora grossa quanto na fina, são muito comuns, mesmo entre crianças de alta funcionalidade. Aguçada sensibilidade sensorial, com reações exageradas ao toque, sons ou estímulos visuais, como luzes, também pode ser percebidas desde cedo. Um pouco mais tarde, dificuldade em aceitar alimentos de diferentes cores e consistências pode aparecer.
Por que começar cedo?
Estar atento aos comportamentos que podem indicar que a criança esteja no espectro possibilita que certas etapas do desenvolvimento sejam trabalhadas mais diretamente e no momento mais apropriado. Oferecer à criança os estímulos de que ela precisa para superar algum atraso tão logo ele se faz notar costuma ser o caminho mais assertivo, com melhores resultados.
A intervenção precoce possibilita a formação de networks neurais complexos por meio de abordagens multissensoriais que alteram a forma como a criança interage com o mundo. Quanto mais nova a criança, mais maleável é o cérebro e, consequentemente, mais facilmente ocorrem as mudanças necessárias para a aquisição das habilidades para as quais ela está neurologicamente pronta.
Ainda antes dos dois anos, quando o cérebro em formação apresenta uma incrível plasticidade, é possível estimular nas crianças com risco de autismo competências sociais, emocionais, de comunicação e linguagem, cognitivas, sensoriais e físicas. O momento certo é o quanto antes.