O foco nos detalhes e a visão do cenário amplo: por que o ensino deve intercalar os modos de atenção

Por: Escola Tistu

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Artigos de Educação

19 de mai. 2021
O foco nos detalhes e a visão do cenário amplo: por que o ensino deve intercalar os modos de atenção

Michele Müller

Como mostrado em artigos anteriores, a atenção concentrada é fundamental para a aprendizagem. Mas não é a única envolvida nesse processo. Existe também um modo de atenção menos dispendioso, que requer menos esforço, mas que também é necessário para que as crianças possam absorver as informações de forma otimizada.

Se comparamos a atenção concentrada com um foco pontual de luz, a atenção difusa assemelha-se, como sugere o nome, a uma fonte difusa de luz: mais fraca, mas se dispersa por todo o ambiente. Assim, esse modo de atenção permite que elas tenham uma visão mais ampla da informação.

Isso porque neste modo atencional, o pensamento corre mais solto pelo cérebro, levando-as a fazer associações menos óbvias, conexões mais holísticas e originais entre as informações aprendidas e os conhecimentos pré-existentes. É quando elas se distanciam dos detalhes para enxergar melhor o todo. 

Quando estão mais relaxadas, brincando livremente, estão em um estado mental que favorece as ideias, facilitando que outras informações e memórias emerjam das áreas mais escondidas do cérebro para seu consciente. Isso explica por que pessoas mais distraídas tendem a ser mais criativas; e por que, quase sempre, é nos momentos de relaxamento que temos as melhores ideias. 

A criatividade nada mais é que a capacidade de fazer associações pouco óbvias e é necessária não apenas nas artes ou no empreendedorismo, mas na hora de encontrar novas soluções para os problemas, de se expressar, de transferir o conhecimento de uma área para outra e aplicá-lo de formas novas.

Ao aprender, por exemplo, um segundo idioma, a criança absorve o conhecimento melhor quando a atenção focada, necessária para aprender regras gramaticais é intercalada com atividades descontraídas, o que permite o uso mais livre da linguagem e uma familiarização com o idioma. Os melhores métodos funcionam dessa forma. 

O modo mais difuso de atenção também ajuda a criança a se familiarizar com um material completamente novo, difícil de ser relacionado a outro conhecimento já consolidado. Antes de envolvê-las em atividades que requerem um foco fechado de atenção, o ideal é dar a elas uma visão do todo, o que pode ser feito com uma história, por exemplo, ou com a mediação planejada de uma conversa entre os alunos.  

Preparar as crianças para o que irão aprender ajuda-as a focar no conteúdo mais denso que vem em seguida. É como folhear um livro antes de começar a ler, observar alguém fazendo antes de começar a aprender, ouvir uma música antes de aprender suas notas. 

Como nosso sistema atencional funciona de forma alternada, o melhor ensino é aquele leva isso em consideração e intercala os detalhes com a visão do todo; que alterna o sistemático, trabalhado de forma isolada e intensiva, com o cenário amplo, em que a informação está inserida de forma prática e dentro de um contexto – quando as crianças interligam os conhecimentos em conversas, trocas, brincadeiras e outras práticas que geralmente não são feitas na carteira escolar.

No próximo artigo veremos uma série de dicas práticas de como trabalhar no dia a dia da criança essa alternância dos modos atencionais, para que a elas aprendam a ganhar mais domínio sobre a atenção e, assim, a aprendizagem seja mais eficaz.