Por que é difícil prestar atenção?

Por: Escola Tistu

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Artigos de Educação

24 de fev. 2021
Por que é difícil prestar atenção?

Michele Müller

“Preste atenção aqui!”. Essa deve ser a ordem que crianças mais escutam. Essa chamada costuma ser eficaz por alguns segundos ou minutos e logo a atenção vai embora novamente. É direcionada a um estímulo mais interessante. Ou diverge para longe de qualquer detalhe ou informação específica, dando espaço para a imaginação ocupar a mente. 

Para crianças pequenas, tudo é muito interessante, tudo é novo e merece um pouquinho da sua atenção, que fica pulando de um estímulo a outro. Sustentar a atenção por mais tempo a uma única atividade é uma capacidade que depende do meio social para se desenvolver. Ensinamos isso às crianças pequenas sempre que dividimos com elas a atenção a um mesmo estímulo, que pode não ter luzes ou sinos, mas que é socialmente relevante, como as histórias ou tarefas que as desafiem. 

À medida que as tarefas ganham complexidade, a demanda pela atenção seletiva aumenta: a criança precisa ter a capacidade de selecionar o estímulo relevante ao mesmo tempo em que ignora os outros – e precisa sustentar esse modo de atenção.

E por que isso é difícil? Porque a função primordial do cérebro, por mais contraintuitivo que pareça, não é raciocinar e sim manter o organismo em equilíbrio. Isso significa que ele, inconscientemente, seleciona aquilo em que vale a pena investir energia. E dentre tudo o que fazemos, aquilo o que nos custa mais caro em termos de energia é aprender.

Então é natural que o cérebro, sem receber sinais de que aquilo que está acontecendo é, de alguma forma, muito importante, automaticamente nos poupe do esforço. Faz isso direcionando a atenção a algo menos dispendioso – geralmente dispersando-a.

As palavras “dispersão” e “foco”, para representar o modo de atenção, são metáforas perfeitas. Imagine um foco de luz iluminando somente um ponto, enquanto o restante fica no escuro. Esse é o modo de atenção que conhecemos como “concentrada”. Ela exige esforço, consome energia e é absolutamente essencial para a aprendizagem.

Mas nem adultos, juntamente por ser tão dispendiosa, conseguem sustentá-la por muito tempo. Logo, precisamos alterná-la com um modo mais aberto de atenção, que tal como uma luz difusa, ilumina de forma mais fraca o ambiente todo, sem que nenhum detalhe esteja em destaque. Neste modo de atenção, também importante para o desenvolvimento cognitivo, as ideias correm mais livremente e novas associações das informações aprendidas anteriormente são feitas.

Agora, como podemos levar esse conhecimento para a prática e ajudar as crianças a alternar os modos de atenção de forma a otimizar a aprendizagem? Existem várias maneiras de trabalharmos atenção. Neste artigo vamos falar da mais básica de todas: promover o interesse. Na sequência, trataremos de outras estratégias que irão auxiliá-las a construir a capacidade de sustentar a atenção. 

Provoque a curiosidade

No momento em que a criança sente aquela vontade irresistível de saber, seu cérebro se prepara para receber a informação. A curiosidade sinaliza que aquilo o que ela quer saber é importante, a partir de uma combinação de neurotransmissores que são liberados, não apenas levando a um estado de alerta propício para a aprendizagem, como favorecendo a retenção do que foi apreendido. 

Perdemos a curiosidade à medida que nada parece nos surpreender. Mas as crianças se surpreendem facilmente, pois seu modelo mental do mundo externo ainda está em construção. Instigar antes de ensinar é a fórmula básica para mantê-las interessadas e, portanto, atentas. Isso fazemos com perguntas, curiosidades, histórias, fatos inusitados, tudo o que traga algum elemento surpresa a ser descoberto.

Outra forma de mantê-las atentas e motivadas é preservando sua curiosidade natural: basta não puni-las por serem curiosas. Por mais óbvia que pareça essa informação, isso acontece toda hora. Acontece quando elas são reprimidas ao tentarem explorar o mundo – o que pode incomodar, sujar ou até machucar; quando são reprimidas ao fazerem comentários durante as aulas, por não estarem passivamente ouvindo uma explicação; ou, especialmente, quando são reprimidas ao expor um raciocínio errado – sendo que o feedback adequado ao erro é o recurso mais eficaz para a aprendizagem.

No artigo da sequência, vamos conhecer outras estratégias que podem ser usadas em casa que ajudam a promover a atenção concentrada. 



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