Leitura: um prazer que deve ser compartilhado

Por: Michele Muller

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Artigos de Educação

12 de mar. 2023
Leitura: um prazer que deve ser compartilhado


 

Michele Müller 

Brincar, fazer, conversar, ouvir, observar, imitar – todas as formas de interações trazem descobertas que ajudam a moldar o cérebro maleável e curioso das crianças e adolescentes. Mas uma delas é imbatível na formação das competências relacionadas à linguagem: mais que revelar os encantamentos e ensinamentos das histórias, a leitura é o principal meio de construção de vocabulário.

Levantamento da Universidade de Ohio mostra que ao lerem um livro por dia aos filhos pequenos, pais expõem as crianças a aproximadamente 290 mil vocábulos (considerando as repetidas) nos primeiros cinco anos de vida. Isso lhes garante não apenas mais contato com palavras, como o contato com mais palavras, isto é, ganham familiariedade com termos e conceitos que são muito mais frequentemente encontrados em livros que na linguagem oral.

Além de mais ricos lexicalmente, textos apresentam às crianças uma linguagem mais elaborada e gramática bem construída. Isso sem falar, é claro, nas histórias propriamente ditas e tudo de bom que elas propiciam: raciocínio verbal, inteligência emocional, empatia, imaginação e criatividade, formação de virtudes e fortalecimento de vínculos, quando a leitura é compartilhada.

Por isso, ler com e para os filhos é uma das atividades mais enriquecedoras que podemos oferecer a eles. E isso vale para qualquer idade – não apenas quando a criança ainda não aprendeu a ler sozinha. Aliás, esse é um dos principais erros que pais cometem, imaginando que, uma vez alfabetizados, os filhos precisam de incentivos para lerem sozinhos. Nenhum incentivo, no entanto, é maior que o de continuar lendo para eles – sempre um nível acima daquele que conseguiriam compreender perfeitamente sem a necessidade da participação do adulto.

Isso pode ser feito revezando-se para ler, lendo antes da criança para servir-lhe como modelo de leitura oral, ou mesmo lendo para ela. Seja qual for o método, o importante é não deixar passar as oportunidades de testar a compreensão da criança, fazendo-lhe perguntas, pedindo que adivinhe a sequência,  dando exemplos diferentes do uso das palavras.

Crianças estão lendo menos?

Ao que tudo indica, todos os ganhos trazidos pela leitura não garantem que crianças e adolescentes tenham esse hábito estimulado como deveria. Diferentes pesquisas ao redor do mundo apontam para um mesmo fato: eles estão lendo menos.

O interesse desse público pelos livros vem caindo ano a ano, à medida que formas mais atraentes de entreternimento ocupam mais e mais horas de seus dias.

Um desses levantamentos, a Pesquisa Anual de Leitura, feita pela Garshore (uma divisão da inglesa Harper Collins), mostra que o número de crianças que leem por prazer diariamente caiu de 38% para 25% na última década.

O Instituto Pró-Livro mostrou que apenas metade dos brasileiros lê com alguma frequência, sendo que 30% das crianças de até 10 anos declararam não haver lido nenhum livro em um período de três meses.

Os resultados são, em parte, um reflexo da cultura da pressa, das agendas cheias e dos estímulos tecnológicos. O interesse pela leitura é algo que precisa ser despertado nas crianças, o que requer dos pais e professores atenção,  tempo, paciência e disciplina para que o hábito seja formado.

Raramente a criança vai se motivar a ler sozinha. Nas interações com adultos, em momentos dedicados à leitura, é que elas vão se encantar pelos livros, pelas histórias e pela maneira de contá-las.

Leitura compartilhada na escola

No Tistu, nenhuma criança fica longe dos livros. São promovidas rodas de leitura, contação de histórias e inúmeras atividades orais e, no caso dos maiores, de escrita, realizadas nas bibliotecas de cada escola.

Nas aulas de linguagem, as crianças do F1 do Tistu 3 praticam de escrita criativa a leitura oral e conversam sobre livros e os sentimentos despertados pelas histórias que desvendam juntos.

A motivação do trabalho coletivo também está presente nos momentos de leitura compartilhada. A prática da literatura, ao invés de ser uma tarefa de casa evitada por muitos, transforma-se em um momento divertido, relaxante e compartilhado por todos, o que faz dos livros e das histórias elementos mágicos de descobertas e de criação de vínculos.

Feiras literárias e projetos interdisciplinares que envolvem pesquisa, seleção de livros e trabalhos em grupos são outros grandes motivadores tanto da aprendizagem como da descoberta dos encantamentos da literatura.

Agora veja como podemos, em casa, desenvolver o hábito da leitura nas crianças e garantir a elas todos os benefícios desta prática:

- Crianças pequenas gostam de repetição. E isso as ajuda a aprender melhor e a consolidar a aprendizagem. Portanto, sem deixar de apresentar a elas novas histórias, não evite ler a mesma, repetidamente, se for o pedirem.

-  Com crianças pequenas, deixe que completem a frase quando a leitura é feita de forma repetida.

- À medida que as crianças crescem e as histórias ganham complexidade, os textos são mais ricos em palavras e ganham frases mais longas. Isso nos traz a oportunidade de trabalhar com a criança o vocabulário e a capacidade de inferência, ou seja, de deduzir o significado de palavras desconhecidas ou informações não explícitas.

- Durante a leitura, pergunte à criança o que ela acha que vai acontecer. Ao fazer previsões, ela vai ficar mais atenta ao trecho seguinte.

- Dê destaque às palavras novas, repetindo-as ao fazer perguntas relacionadas à história.

- Ao longo do fundamental, o nível da fluência das crianças geralmente não acompanha o nível de compreensão de textos. Os livros que conseguem ler sem esforço tornam-se infantis e os mais interessantes costumam vir com muito texto e frases longas, que requerem mais atenção e leitura fluente. Assim, aproveite para ler com o seu filho aqueles livros que dificilmente leria sozinho e teste sua compreensão, interrompendo a leitura com perguntas.

- Se quando a criança está lendo textos com fontes menores ela se perde e volta à mesma linha,  dê a ela uma régua na hora de ler. Ensine-a a usar a régua em cima – e não embaixo – da frase que está lendo.


 

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