
Na Escola
Tistu Yard: inglês aplicado em atividades práticas
O sucesso dos alunos nos testes de proficiência atesta a qualidade e a eficácia do programa.
Por: Escola Tistu
|Por Michele Müller
Ser mimado não significa ganhar tudo o que se quer. Nem necessariamente ganhar sem muito esforço. Significa não dar valor ao que se tem; acreditar que o mundo tem obrigação de atender aos seus desejos.
O antídoto para esse comportamento egocêntrico, normal entre crianças, mas muito comum entre adultos, é um sentimento que não nasce com ninguém e geralmente precisa ser diretamente exercitado: de gratidão. Ser grato é muito mais que agradecer “da boca para fora”, ou por educação: é tirar os holofotes das próprias necessidades e reconhecer os gestos daqueles que as atendem; é olhar para os outros, colocar-se no lugar deles, valorizar seu trabalho, sua presença, saber que nem sempre estarão ao nosso dispor.
Ser grato é lembrar que tudo o que temos é emprestado, é temporário, que podemos perder; é prestar atenção aos momentos presente, valorizando as pequenas coisas que passam despercebidas pela mente distraída. Por isso, o exercício da gratidão faz parte da prática de mindfulness e, conforme aponta um corpo consistente de estudos nas duas vertentes, tem resultados semelhantes e duradouros.
Realizadas a partir de atividades que levam à conscientização do valor daquilo e daqueles que contribuem para enriquecer a vida de cada participante – como a reflexões na forma escrita –, as pesquisas sobre os efeitos da gratidão apontam melhoras significativas no bem-estar e saúde, tanto mental quanto física, além de elevar a qualidade do sono e a capacidade de gerenciamento de estresse e ansiedade. Esses resultados são apontados de forma consistente em pesquisas sobre efeitos da gratidão em crianças, adolescentes e adultos.
Como era de se esperar, pessoas que buscam em si a gratidão, como exercício consciente e constante, cultivam melhores relações sociais e são mais generosas – ou seja, menos egoístas e, claro, menos mimadas.
Em outras palavras, pessoas gratas são mais felizes e fazem os outros mais felizes. E isso não depende de quanto têm, de quanto ganham ou de quão difícil ou tranquila é a vida. Há sempre ao que agradecer, há sempre do que reclamar. O sentimento da gratidão nasce da escolha e do exercício da primeira atitude e da inibição da segunda, em qualquer circunstância da vida, em qualquer idade.
Isso já era difundido por pensadores da antiguidade, muito antes de virar tema de investigações da psicologia comportamental. “Ao levantar-se de manhã, lembre-se do privilégio que é estar vivo, poder pensar, aproveitar, amar”, escreveu Marco Aurélio, o imperador filósofo, em seu livro de meditações.
Outro pensador estoico, o Sêneca, lembra-nos de que, diferentemente de virtudes que são voltadas aos outros, como senso de justiça, a gratidão é direcionada acima de tudo ao nosso próprio benefício, até quando se manifesta em forma de generosidade.
O exercício da gratidão passa, ao mesmo tempo, pela lembrança de que o momento presente é transitório e valioso e pelo desprendimento, que é a consciência de que a felicidade não pode estar atrelada a nada que se pode perder.
Mesmo tendo nascido em uma família abastada e influente e tendo todo o luxo disponível na época ao seu dispor, sabia que seu bem-estar não poderia depender de coisas externas e passíveis de serem perdidas. Para exercitar o desprendimento, abria mão temporariamente de seu conforto ao dormir no chão, passar a noite nos quartos mais desconfortáveis de pousadas baratas, privar-se de alimentos em determinados dias ou tomar banho frio. “As maiores bênçãos que temos estão dentro de nós e ao nosso alcance. O homem sábio valoriza o que tem, seja o quanto for, ao invés de desejar o que não tem”, escreveu.
Como pode-se concluir a partir de exemplos extremos como o de Sêneca, sentimentos, assim como virtudes, são aprendidos e exercitados ao longo da vida, começando pela infância.
Veja abaixo como podemos ajudar os filhos a dar mais valor ao que eles têm, fazendo a gratidão tomar o lugar de comportamentos mimados.
- Fale sobre os sentimentos, tanto da criança quanto dos outros. Isso irá ampliar o vocabulário das emoções e ajudar a criança a compreendê-las melhor. A capacidade de sentir gratidão aos cinco anos está relacionada à compreensão da perspectiva e dos sentimentos dos outros já aos três anos de idade, conforme apontam estudos.
- Ensine a criança a agradecer, agradecendo. Crianças aprendem muito observando o comportamento de quem elas confiam e, conforme mostram estudos, pais gratos criam filhos gratos. Mostre a eles o valor de todos os trabalhos, agradecendo aos motoristas de condução, porteiros, profissionais da limpeza e, quando possível, perguntando e pronunciando o nome da pessoa.
- Ensine a apreciar, apreciando. Independentemente da religião, ou seja, a quem agradecer pelas bençãos que nos cercam, apreciá-las faz bem e acalma a ansiedade. Isso pode ser feito por meio de práticas contemplativas, de atenção aos detalhes, cheiros, texturas e formas na natureza. Prestar atenção, contemplar as coisas boas e bonitas à nossa volta, é uma forma de sentir-se grato.
- Converse com a criança sobre coisas às quais você se sente agradecido e encoraje-a a fazer o mesmo. Com relação àquelas que não foram boas, mostre como poderiam ter sido piores.
- Engaje a criança em atividades comunitárias. Generosidade desperta gratidão e vice-versa. Ajude a criança a descobrir o que ela pode fazer para ajudar sua comunidade, vizinhos, colegas.
- Incentive a criança a doar brinquedos e roupas ao invés de acumular. Exercitar o desprendimento é uma forma de exercitar a gratidão.
- Ajude a criança a evitar comparar-se com outras. Comparações provocam insatisfação e ingratidão e são sempre injustas. Isso pode começar pelas próprias atitudes, ao jamais comparar o filho com outras crianças, por exemplo.