Conflitos são oportunidades de aprendizagem

A escola não é apenas um local de aprendizagens acadêmicas. É onde se aprende também a se relacionar. Assim como nos domínios motores e cognitivos, as habilidades socioemocionais dependem da prática – ou seja, da interação com colegas – para se desenvolverem. Na segurança e estrutura do ambiente escolar e sentindo-se acolhida, a criança aprende a se comunicar, compartilhar, cooperar, resolver conflitos e construir vínculos.

O impacto da escola na vida social da criança foi tema de muitos estudos. Um deles, promovido pelo Ministério da Educação da Alemanha em 2021, teve como objetivo analisar a influência da educação formal nos relacionamentos com irmãos, pais e colegas. A pesquisa acompanhou mais de mil crianças ao longo de dois anos a partir do momento em que ingressaram na escola e constatou melhor comunicação e mais proximidade entre filhos e pais, além da formação de laços de amizade com os quais as crianças passaram a contar para suporte emocional.

O estudo mostrou que crianças que formaram vínculos com colegas ainda em idade pré-escolar são significativamente mais propensas a manter relacionamentos de qualidade entre a primeira e a terceira série em comparação com aquelas que não tiveram a oportunidade de conviver com amigos da mesma faixa etária. A relação com colegas e professores contribui, segundo o levantamento, para o ganho de autoestima, empatia e senso de pertencimento.

Foi também comprovado que ambientes inclusivos e acolhedores, que promovem a conexão e o apoio entre os alunos, estão relacionados à redução de ansiedade, depressão e problemas de comportamento, além de formarem um escudo contra bullying e isolamento social (Relacionamentos e Pertencimento - Mentally Healthy Schools).

Outro importante estudo sobre este tema foi realizado pela Universidade de Chicago entre 1939 e 1970 (The Chicago Child-Parent Study). Pesquisadores acompanharam 1,5 mil crianças do nascimento até a idade adulta, coletando dados sobre saúde mental, sucesso profissional e relacionamentos pessoais. Entre as principais conclusões está o fato de que mais experiências sociais na infância resultam em maior satisfação pessoal e profissional no futuro.

Conflitos fazem parte do crescimento

Os benefícios das interações sociais não são apenas resultado de relações harmônicas. Pelo contrário: a grande aprendizagem que surge dos relacionamentos com colegas e professores é justamente a capacidade de lidar com desavenças e resolver conflitos.

Ainda de acordo com o estudo longitudinal de Chicago, as crianças que aprendem a resolver conflitos de forma pacífica na infância são mais propensas a manter relacionamentos saudáveis quando adultas. E isso só acontece quando há divergências e o inevitável desconforto que elas trazem.

Na prática da resolução de conflitos, as crianças desenvolvem o pensamento crítico, a capacidade de identificar soluções, a empatia e o senso de moral e justiça, habilidades essenciais para uma vida bem-sucedida.

O exercício da sociabilidade

Com base nos resultados de uma revisão de literatura sobre o tema (Relacionamentos e Pertencimento - Mentally Healthy Schools), pesquisadores recomendam às escolas a implementação de programas de mentoria entre crianças de diferentes idades; a promoção de atividades em grupo e interações sociais; e o treinamento de professores para que possam ajudar a construir relacionamentos positivos.

No Tistu, essas ações são aplicadas de diversas formas e em todos os níveis. Uma das iniciativas totalmente voltadas às habilidades socioemocionais é o Projeto Conviver, voltado a crianças do primeiro ao quinto ano.

Entre os objetivos da iniciativa, que envolve dinâmicas, brincadeiras e atividades em grupo, então a integração de todos os alunos, o acolhimento dos recém-ingressados na escola, a resolução amigável de conflitos, a compreensão do conceito de respeito como base para a convivência.

Como os pais podem incentivar o cultivo de relacionamentos saudáveis.  

A família pode ajudar a criança a se desenvolver socialmente de diversas maneiras. Eis algumas dicas de como fazer isso:

• Proporcione oportunidades de socialização. Incentive a participação em atividades em grupo, como esportes, clubes ou encontros para brincar.
• Ajude seus filhos a identificar sentimentos. Fale sobre as emoções e valide seus sentimentos, ensinando-lhes formas saudáveis de expressá-los.
• Incentive a empatia. Leia livros e discuta situações nas quais personagens vivenciam diferentes emoções. Histórias ajudam as crianças a enxergar situações sob diferentes perspectivas.
• Ensine comunicação assertiva. Oriente a criança a expressar suas necessidades e desejos de forma clara e respeitosa, evitando agressão.
• Use seus próprios conflitos com a criança como oportunidade de ensino. Discuta com ela soluções para conflitos, como compartilhar, revezar e como lidar com discordâncias.
• Oriente seus filhos a ouvir atentamente a perspectiva da outra criança sem interromper, sendo sempre um modelo de interação social positiva.
• Incentive revezar. Enfatize a importância de revezar entre fala e escuta como forma de resolver conflitos de maneira justa.
• Evite resolver os conflitos por eles. Incentive-os a resolvê-los por conta própria, com sua orientação e apoio.
• Ofereça segurança. Ressalte que desentendimentos são normais e que todos cometem erros.
• Quando surgirem conflitos, foque na reparação do dano e na busca de soluções que funcionem para todos os envolvidos.
• Em caso de conflitos, crie um espaço seguro e respeitoso para que todos possam expressar seus sentimentos e perspectivas, mantendo-se neutro. Incentive a escuta ativa e a compreensão mútua.

Links para os estudos citados:

O impacto da educação formal nos relacionamentos das crianças com pais, irmãos e amigos -  The Impact of Formal School Entry on Children's Social Relationships with Parents, Siblings, and Friends - PMC - NCBI

The Chicago Child-Parent Study: https://innovation.umn.edu/cls/

Fatores que impactam a saúde mental: https://mentallyhealthyschools.org.uk/