
Na Escola
Tistu Yard: inglês aplicado em atividades práticas
O sucesso dos alunos nos testes de proficiência atesta a qualidade e a eficácia do programa.
Por: Michele Muller
|A maioria das espécies possui um cérebro pré-programado para responder a estímulos de maneira eficiente, sem precisar planejar como fugir de perigos ou buscar alimentos. Já as espécies mais evoluídas têm a capacidade de adaptar-se a diferentes situações, buscando estratégias mais adequadas a cada uma. Para isso, elas precisam guardar na memória o resultado de situações passadas para agir de forma mais assertiva no presente. Ou seja, precisam aprender.
Uma das características que as espécies providas de mecanismos neurológicos necessários para aprender e se adaptar têm em comum é que seus cérebros se desenvolvem mais lentamente. E, nesse tempo, elas brincam. A natureza deu aos seres mais inteligentes a necessidade de brincar na fase de desenvolvimento, garantindo que a aprendizagem ocorra de forma natural e prazerosa.
A brincadeira, seja qual for a espécie, tem sempre um propósito comum: simular situações da vida real, sem os riscos que elas trazem. Brincar é ensaiar para a vida e, de forma segura, testar os limites e aprender a predizer com assertividade as reações dos outros, avaliando o resultado das próprias ações.
Na brincadeira desenvolvem-se habilidades fortemente correlacionadas à inteligência e adaptabilidade de uma espécie, como a sociabilidade. Uma série de estudos comprovam que quanto maior a capacidade de interação em grupo, mais desenvolvido é o cérebro, sendo a sociabilidade tanto causa como consequência dessa evolução.
Afinal, é necessário um cérebro mais complexo para se comunicar de maneira eficaz, prevendo as reações dos outros; e, de forma inversa, está na convivência com mentes diferentes, no trabalho coletivo e nas relações de afeto a base da cognição sofisticada. É no ato de brincar que se estabelecem essas relações de confiança, e é construindo essa confiança que nos tornamos humanos.
Da linguagem e pensamento lógico a conceitos abstratos, como espaço e quantidade, a cognição se desenvolve principalmente nos momentos em que as crianças simulam situações, imitam, disputam, divertem-se e sentem-se seguras para arriscar.
Lev Vygotsky, uma das principais referências nos estudos da cognição infantil, destacou que na brincadeira as crianças colocam-se em diferentes papéis, muitas vezes assumindo o papel de mais velhas, criando o que ele chama de zona de desenvolvimento proximal - aquele espaço entre o que a criança já domina e o que ainda não consegue fazer sozinha, guiada pela maneira como observou os adultos.
Para Vygotsky, o pensamento, a linguagem e outras capacidades cognitivas superiores não podem ser separados das relações sociais, pois dependem delas para se desenvolver. Em resumo, ele afirmou que "a criança não pode se desenvolver introspectivamente, mas sim no contato ativo com o ambiente que a cerca" - uma afirmação respaldada pela neurociência. Esse contato, quando se apresenta na forma de brincadeiras, garante o engajamento da criança, fazendo com que a aprendizagem ocorra de forma mais eficaz.
A zona de desenvolvimento proximal, na qual ocorre a aprendizagem, é criada quando há a intervenção de um adulto que, na atividade lúdica, estimula e orienta a criança a dar um passo além do campo em que já navega confortavelmente. Isso pode ser feito por meio de jogos com regras gradativamente mais complexas, brincadeiras de linguagem, projetos e construções coletivas - tudo o que as crianças fazem na escola quando não estão sentadas ouvindo passivamente.
Brincar com liberdade
O psicólogo americano Peter Gray, autor de Livre Para Brincar (Free to Learn), ainda sem edição no Brasil), defende que crianças não devem deixar de brincar livremente, sem a interferência de adultos. Ele argumenta que brincadeiras autodirecionadas exercitam muito mais do que a imaginação: ao assumirem diferentes papéis, as crianças desenvolvem a capacidade de se comportar de acordo com concepções compartilhadas sobre o que é ou não é apropriado. "Elas também exercitam a arte da negociação. Saber dar e fazer acordos é certamente uma das capacidades humanas mais valorizadas", completa.
A interação entre colegas, sem intervenção de uma autoridade, desempenha uma função essencial no desenvolvimento infantil: a autorregulação emocional. O neurocientista Michael Tomasello, autor de As Origens Culturais da Aquisição do Conhecimento Humano (Martins Fontes), escreve que a partir dos três anos, quando as crianças deixam de interagir fundamentalmente com adultos e passam a brincar entre colegas, é que aprendem regras sociais na prática.
Segundo ele, são as outras crianças que ajudam a regular habilidades socioemocionais e a praticar o discurso argumentativo de forma mais livre, flexibilizando os padrões de pensamento e adquirindo noções de responsabilidade. "Presumivelmente, as crianças imaginam ou simulam o julgamento de valor que o colega fará, executivamente autorregulando o comportamento de acordo", escreve em Teoria da Ontogenia (Becoming Human: a Theory of Ontogeny).
Ao ar livre é mais saudável
Peter Gray destaca o fato de que a falta de espaço e tempo para brincadeiras ao ar livre e o crescente controle e direcionamento das atividades pelos adultos têm levado a um declínio na criatividade, na empatia e na resolução de problemas entre as crianças.
Diversos estudos destacam o papel das brincadeiras ao ar livre no desenvolvimento infantil e redução de estresse e ansiedade. Um deles, publicado no Journal of Environmental Psychology, apontou a relação do tempo passado em áreas externas não apenas com a queda nos níveis de estresse, mas também com a melhoria do humor, autoestima e atenção das crianças, além de desenvolver seu senso de responsabilidade.
Outro levantamento, realizado pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos, concluiu que as crianças que passam mais tempo em atividades ao ar livre tendem a ter uma saúde melhor e sistema imunológico fortalecido.
Por outro lado, há evidências de que o tempo em que as crianças brincam em ambientes externos vem reduzindo ano a ano. Um relatório divulgado pela organização Pequenos Exploradores, do Reino Unido, revelou que as crianças passam apenas quatro horas por semana brincando ao ar livre, enquanto passam mais de sete horas por dia em frente às telas de dispositivos eletrônicos.
A crescente preocupação com a segurança é um dos fatores por trás dessa mudança no cenário em que a infância se desenrola. Gray defende que, em geral, os adultos hoje subestimam a habilidade das crianças de fazer julgamentos – uma preocupação que acaba se concretizando, uma vez que, privadas de liberdade, são privadas de oportunidades de aprender a gerenciar seu comportamento e emoções.
No Tistu, aprender é brincar
No Tistu, essas necessidades são supridas em todas as fases da infância. Atividades ao ar livre são promovidas diariamente, sempre que o tempo permite, com horários para brincadeiras livres e atividades lúdicas guiadas. As três unidades foram arquitetadas de forma a estimular o contato com a natureza, o movimento do corpo, a exploração de espaços variados e a interação criativa entre colegas.
Desde os momentos de faz de conta até as atividades "mão na massa", para crianças em idade pré-escolar, todo o conhecimento é construído de forma lúdica, respeitando o processo natural de aprendizagem.
No ensino fundamental, as aulas teóricas são alternadas com as práticas, realizadas em diversos espaços da escola, como o laboratório de ciências, a horta e o bosque. Jogos e brincadeiras são aliados indispensáveis do ensino de todas as disciplinas, inclusive história, filosofia e matemática.